quarta-feira, 30 de novembro de 2011


"Mantém puro o foco do vosso pensar"

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Nós construímos nosso destino




Nós mesmos somos os condutores do "trem" de nossas vidas. Diariamente, atravessamos muitos cruzamentos, pequenos ou grandes. Existem muitos caminhos que podemos escolher. Mas nem todos eles levam ao destino ao qual desejamos regressar a tempo, se não quisermos percorrer o longo caminho que já sabemos ser desperdício.
A alavanca de direção de nossa locomotiva tem somente duas posições – SIM para a vida, ou NÃO. No início de nossa jornada, no início de nosso desenvolvimento espiritual, a alavanca de direção estava na posição que indicava para a vida e nossa habilidade de sentir o que era certo era clara. Em qual posição está a alavanca agora? Somos capazes de distinguir, em cada situação, qual decisão está indicando para a vida? Viajamos para a direção certa, ou estamos nos precipitando em direção ao desastre?
Subjetivamente, a partir de diferentes pontos de vista, a vida parece ser algo complicado. Afinal, vivemos em um mundo de infinitas possibilidades. Mas a vida, em sua essência profunda, é absolutamente simples. Semelhante ao mundo material que nos ensina a distinguir o bom e o ruim, o bonito e o feio, o sólido e o frágil… ao encararmos a vida, deparamos também com somente duas possíveis escolhas: podemos direcionar nossa vida para a consciência e o despertar espiritual – o principal objetivo de nossa vida, ou para o adormecer espiritual.
Quer estejamos ou não conscientes disso, nós criamos nosso próprio futuro através de nossas próprias decisões as quais se concretizam inevitavelmente, como o trem quando a cada mudança de chaveamento na Estrada de ferro o leva pelo trilho o qual é forçado a seguir até o próximo cruzamento, permitindo então uma nova mudança. Nós mudamos a direção de nossas vidas não somente pelas decisões sobre coisas importantes, mas principalmente por dezenas de SIM ou NÃO que escolhemos em situações diárias, onde mudamos a alavanca imaginária do nosso trem.
É importante para nós estarmos constantemente conscientes da direção de nossos pensamentos, palavras e atos e não devemos adiar nossas decisões para mudar a direção de nossa viagem, se descobrirmos que não estamos na direção correta. Porque se nos apressamos no trilho errado, indo à direção oposta, nossa distância da estação destino fica ainda maior e teremos que viajar muito mais. Viajar para a direção errada nos deixará exaustos e arriscaremos perder a rota correta ou não conseguir terminar a viagem a tempo. O tempo de vida nos trilhos através dos quais podemos alcançar nosso destino não é eterno.
Ao desejarmos conduzir nossa vida apropriadamente, temos que considerar quais são os impactos espirituais em tudo que fazemos. Sim, nossa vida interior é influenciada pela escolha da nossa alimentação, da nossa forma de vestir e de muitas outras ocasiões materiais, mas somente por estas coisas nós nunca alcançaríamos a verdadeira mudança. Somente com a mudança espiritual é que conseguimos mover-nos para a linha vertical do existir e atingirmos um nível de vida horizontal superior. Somente assim poderemos alcançar uma mudança significativa também na vida terrena, que é o reflexo de nossa vida espiritual.
Existem muitos níveis diferentes (horizontais) de vida neste mundo. Diariamente podemos encontrar pessoas felizes e infelizes, bem-sucedidas e má-sucedidas, satisfeitas e insatisfeitas… independentemente de serem ricas ou pobres. A pessoa que sofre na vida que ela mesma criou para si, através de suas próprias escolhas, está provavelmente preocupada com o nível material da história de sua vida não se preocupando com o mais importante: se sua escolha a eleva ou a rebaixa espiritualmente. Ela é como o maquinista que está no labirinto dos trilhos e escolhe o seu caminho entre o daquele com trilhos dourados ou o de mármore precioso, mas não enxerga o fato que nenhum deles o conduzirá à estação final.
Como serão nossas decisões através das quais nós mudamos a alavanca de nossa vida? Será que nós cuidaremos dos outros, ou resolveremos nossas coisas negligentemente? Será que sentaremos em frente à televisão por horas assistindo como outras pessoas “vivem” ou nós mesmos viveremos nossa vida, enriquecida com experiências? Será que compraremos vídeo games recheados com violência para nossos filhos, ou passaremos momentos de felicidade com eles educando-os para serem boas pessoas? Será que preferiremos caminhar no campo ao ar livre, ou iremos “relaxar” em um bar? Será que apoiaremos o que é certo e protestaremos contra o que for errado ou deixaremos nossas vidas nas mãos de pessoas que a conduzem de maneira errada? Será que constantemente pensaremos sobre situações passadas ou sonharemos com o futuro deixando o presente correr por entre nossos dedos, ou será que perceberemos a responsabilidade para a nossa vida vivendo conscientemente? SIM ou NÃO?


Texto original : http://www.conhecimento-espiritual.net.br/vida/nos-construimos-nosso-destino.php

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O que é a Acção Correcta?



Auckland, Nova Zelândia, 1ª palestra 28 de março, 1934.
Amigos, penso que cada um de nós está aprisionado seja num problema religioso seja numa luta social ou num conflito económico. Cada um de nós está a sofrer pela falta de compreensão destes variados problemas, e tentamos resolver cada um deles por si; isto é, se têm um problema religioso, pensam que o vão resolver pondo de lado o problema económico ou social e centrando-se inteiramente no problema religioso, ou se têm um problema económico pensam que vão resolver esse problema económico limitando-se inteiramente a esse conflito específico. Ao passo que eu digo que não podem resolver estes problemas por si sós; não podem resolver o problema religioso por si só, nem o problema económico nem o problema social, a menos que vejam a interrelação entre os problemas religiosos, sociais e económicos.
Aquilo a que chamamos problemas são meramente sintomas, que aumentam e se multiplicam porque não agarramos a vida toda como uma coisa só, mas dividimo-la em problemas económicos, sociais ou religiosos. Se olharem para todas as variadas soluções que são oferecidas para os vários padecimentos, verão que lidam com os problemas em separado, em compartimentos estanques, e não tomam os problemas religiosos, sociais e económicos compreensivamente como um todo. Ora é minha intenção mostrar que enquanto lidarmos com estes problemas em separado apenas aumentamos o desentendimento, e portanto o conflito, e desse modo o sofrimento e a dor; até que lidemos com o problema social e com os problemas religiosos e económicos como um todo compreensivo, não dividido, mas de preferência vendo a ligação delicada e subtil entre aquilo que chamamos problemas religiosos, sociais ou económicos – até que vejam esta ligação real, esta ligação íntima e subtil entre os três, seja qual for o problema que possam ter, não o vão resolver. Apenas incrementarão a luta. Embora possamos pensar que resolvemos um problema, esse problema surge novamente de uma forma diferente, e assim vamos através da vida resolvendo problema após problema, luta após luta, sem compreender totalmente o pleno significado do nosso viver.
Portanto, para compreender esta ligação íntima entre aquilo a que chamamos problemas religiosos, sociais e económicos, tem que haver uma completa reorientação do pensamento – isto é, cada indivíduo tem que deixar de ser uma peça de engrenagem, uma máquina, seja na estrutura social seja na religiosa. Olhem e verão que a maior parte dos seres humanos são escravos, meras peças de engrenagem nesta máquina. Não são realmente seres humanos, apenas reagem a um meio estabelecido e por isso não existe verdadeira acção individual, pensamento individual; e para descobrir essa relação íntima entre todas as nossas acções, religiosas, políticas ou sociais, têm que pensar como indivíduos, não como um grupo, não como um corpo colectivo; e essa é uma das coisas mais difíceis de fazer, que os indivíduos saiam da sua estrutura social, ou religiosa, e a examinem com espírito crítico, para descobrir o que é falso e o que é verdadeiro nessa estrutura. E então verão que já não estão preocupados com um sintoma, mas estão a tentar descobrir a causa do próprio problema, e não apenas a lidar com os sintomas.
Talvez alguns de vocês digam no fim da minha palestra que nada lhes dei de positivo, nada em que possam claramente trabalhar, um sistema que possam seguir. Eu não tenho nenhum sistema. Penso que os sistemas são perniciosos, porque podem de momento aliviar os problemas, mas se simplesmente seguirem um sistema são escravos dele. Apenas substituem o velho sistema por um novo, o que não origina compreensão. O que origina compreensão não é procurar um novo sistema, mas sim descobrirem por si próprios, como indivíduos, não como uma máquina colectiva mas como indivíduos, o que é falso e o que é verdadeiro no sistema existente, e não substituir o velho sistema por um novo.
Ora, ser capaz de criticar, ser capaz de questionar, é o primeiro requisito essencial para qualquer homem pensante, para que possa começar a descobrir o que é falso e o que é verdadeiro no sistema existente, e por esse motivo nesse pensamento há acção, e não mera aceitação. Assim durante esta palestra, se quiserem compreender o que vou dizer, tem que haver espírito crítico. O espírito crítico é essencial. O questionamento é correcto, mas nós fomos treinados para não questionar, para não criticar, fomos cuidadosamente treinados para nos opormos. Por exemplo, se eu disser algo que não vão gostar – como o farei, espero – naturalmente começarão a opor-se, porque a oposição é mais fácil do que descobrir se o que digo tem algum valor. Se descobrirem que o que eu digo tem valor, então há acção, e por isso terão que alterar toda a vossa atitude perante a vida. Por esse motivo, como não estamos preparados para fazer isso, criámos uma hábil técnica de oposição. Isto é, se não gostarem de qualquer coisa que estou a dizer, apresentam todos os vossos preconceitos profundamente enraizados e obstruem-na, e se eu estiver a dizer algo que os possa magoar, ou que os possa aborrecer emocionalmente, refugiam-se nestes preconceitos, nestas tradições, neste pano de fundo; e reagem a partir desse pano de fundo, e a essa reacção chamam crítica. Para mim não é espírito crítico. É apenas oposição habilidosa, que não tem valor.
Ora bem, se forem todos Cristãos – e presumivelmente são todos Cristãos – talvez eu vá dizer algo que podem não compreender, e em vez de tentarem descobrir o que quero transmitir, imediatamente se refugiarão por trás das tradições, por trás dos preconceitos profundamente enraizados e das autoridades da ordem estabelecida, e a partir dessa fortaleza, na defensiva, atacarão. Para mim isso não é crítica: isso é uma maneira engenhosa de não actuar, de evitar a acção plena, completa.
Se quiserem entender o que vou dizer, pedia-lhes que fossem realmente críticos, não habilidosos na vossa oposição. Ser crítico requer muita inteligência. A crítica não é cepticismo, ou aceitação; isso seria igualmente estúpido. Se simplesmente dissessem, “Bem, eu sou céptico sobre o que diz”, isso seria tão estúpido como simplesmente aceitar. Ao passo que a verdadeira crítica consiste, não em transmitir valores, mas em tentar descobrir os verdadeiros valores. Não é assim? Se conferirem valores às coisas, se a mente conferir valores, então não estão a descobrir o mérito intrínseco da coisa, e a maior parte das nossas mentes está treinada para conferir valores. O dinheiro, por exemplo. Abstractamente o dinheiro não tem valor. Tem o valor que lhe damos. Isto é, se quiserem o poder que o dinheiro dá, então usam o dinheiro para ter poder, portanto estão a dar um valor a algo que inerentemente não tem valor; assim, da mesma maneira, se descobrirem e compreenderem o que vou dizer, têm que ter esta capacidade de crítica, que é realmente fácil se quiserem descobrir, se quiserem encontrar, não se disserem, “Bem, não quero ser atacado. Estou na defensiva. Tenho tudo o que quero, estou perfeitamente satisfeito.” Então, uma tal atitude é perfeitamente irremediável. Estão então aqui apenas por curiosidade – e a maioria provavelmente está – e o que eu vou dizer não terá significado, e por isso dirão que é negativo, nada construtivo, nada positivo.
Portanto por favor lembrem-se que esta tarde vamos descobrir, considerar em conjunto, quais são as coisas falsas e as verdadeiras na situação social e religiosa existente; e para fazer isso por favor não tragam continuamente os vossos preconceitos, sejam Cristãos, ou de qualquer outra seita, mas tenham antes esta atitude inteleigente e crítica, não só a respeito do que vou dizer, mas com respeito a tudo na vida, o que significa a cessação da procura de novos sistemas, e não a procura de um novo sistema que, quando encontrado, será de novo pervertido, corrompido. Na descoberta do falso e do verdadeiro nos sistemas social, religioso e económico – o falso e o verdadeiro que nós próprios criámos – nessa descoberta, impediremos as nossas mentes e corações de criar falsos ambientes nos quais provavelmente a mente será de novo aprisionada.
A maior parte de vocês está à procura de um novo sistema de pensamento, um novo sistema de economia, um novo sistema de filosofia religiosa. Porque procuram um novo sistema? Vocês dizem, “Estou insatisfeito com o antigo”, isto é, se estiverem a procurar. Ora eu digo, não procurem um novo sistema, mas em vez disso examinem o próprio sistema em que estão presos, e então verão que nenhum sistema de nenhuma espécie originará a inteligência criativa que é essencial para a compreensão da verdade ou Deus ou seja lá qual for o nome que gostam de lhe dar. Isso significa que não seguindo qualquer sistema vão descobrir a realidade eterna; mas só a vão encontrar quando vocês, como indivíduos, começarem a compreender o próprio sistema que edificaram através dos séculos, e nesse sistema descobrirem o que é verdadeiro e o que é falso.
Portanto por favor lembrem-se disso – que não lhes estou a dar um novo sistema de filosofia. Penso que estes sistemas são gaiolas para manter presa a mente. Não ajudam o homem, são apenas impedimentos. Estes sistemas são um meio de exploração. Ao passo que se vocês, como indivíduos, começarem a questionar, verão que nesse questionamento criam conflito, e a partir desse conflito compreenderão – não na mera aceitação de um novo sistema que é apenas outro soporífero que os adormece e os transforma em mais uma máquina.
Vamos portanto desocbrir o falso e o verdadeiro nos sistemas existentes – os sistemas da religião e da sociologia. Para descobrir o que é falso e o que é verdadeiro, temos de ver em que se baseiam as religiões. Ora, eu falo de religião como a forma cristalizada de pensamento que se tornou no mais elevado ideal da comunidade. Espero que acompanhem tudo isto. Isto é, as religiões tal como são, não como vocês gostariam que fossem. Tal como são, em que se baseiam? Qual é o seu fundamento? Quando olham, quando examinam e pensam realmente com espírito crítico sobre isso – não trazendo as vossas esperanças e preconceitos, mas quando realmente pensam sobre isso – verão que se baseiam no conforto, dando-lhes consolo quando estão a sofrer. Isto é, a mente humana está continuamente à procura de segurança, de uma posição de certeza, seja numa crença ou num ideal ou num conceito, e portanto estão continuamente a procurar uma certeza, uma segurança, em que a mente se refugie como conforto. Ora o que acontece quando estão continuamente à procura de segurança, protecção, certeza? Naturalmente isso gera medo, e quando há medo tem que haver conformidade. Por favor, não tenho tempo de entrar en detalhes. Fá-lo-ei nas minhas várias palestras, mas nesta quero pôr tudo concisamente, e se estiverem interessados podem ponderar sobre isto, e depois podemos discuti-lo em reuniões de perguntas e respostas.
Portanto as pretensas religiões conferem o padrão de conformidade à mente que procura segurança nascida do medo na busca de conforto; e onde há procura de conforto, não há compreensão. As nossas religiões em todo o mundo, no seu desejo de dar conforto, no seu desejo de os conduzir a um padrão específico, de os moldar, dá-lhes vários padrões, moldes, seguranças, através daquilo a que chamam fé. Essa é uma das coisas que exigem – fé. Por favor não interpretem mal. Não se adiantem a mim. Elas exigem fé, e vocês aceitam a fé porque ela lhes proporciona um refúgio do conflito da existência diária, da luta contínua, das preocupações, dores e sofrimentos. Portanto dessa fé, que tem que ser uma fé dogmática, nascem as igrejas, e daí são estabelecidas ideias, crenças.
Ora para mim – e por favor lembrem-se disto, quero que critiquem, não que aceitem – para mim todas as crenças, todos os ideais são um obstáculo porque os impedem de compreender o presente. Vocês dizem que as crenças, os ideais, a fé, são necessários como um farol que os orientará através da confusão da vida. Isto é, estão mais interessados em crenças, em tradição, em ideais e na fé, do que em compreender a própria confusão. Para compreenderem a confusão não podem ter uma crença, um preconceito; têm que olhar para ela completamente, agarrá-la com uma mente clara, com uma mente não corrompida, não com uma mente que está influenciada por preconceitos específicos a que chamamos um ideal. Portanto onde há uma procura de conforto, de segurança, tem que haver um padrão, um molde, no qual nos refugiamos, e por isso a preconceber o que deve ser Deus, e o que deve ser a verdade.
Ora para mim, existe uma realidade viva. Existe algo que devém eternamente, algo fundamental, real, duradouro, mas que não pode ser preconcebido; não requer crenças, requer uma mente que não esteja acorrentadada a um ideal tal como um animal está atado a um poste, mas que pelo contrário, requer uma mente que esteja continuamente a mover-se, a experimentar, nunca permanecendo. Eu afirmo que há uma realidade viva; chamem-lhe Deus, verdade, o que quiserem, coisa que é de muito pouca importância – e para compreenderem isso, é preciso haver suprema inteligência, e por isso não pode haver qualquer conformidade, mas antes o questionamento dessas coisas falsas e verdadeiras em que a mente se encontra aprisionada. E verão que a maior parte das pessoas, a maior parte de vocês são religiosamente propensos, estão à procura da verdade, e essa mesma procura indica que estão a fugir do conflito do presente, ou que estão insatisfeitos com a situação presente. Por isso tentam descobrir o que é real; isto é, deixam a situação que cria conflito e fogem e tentam descobrir o que é Deus, o que é a verdade. Por isso essa procura é a negação da verdade, porque estão a fugir – há evasão, desejo de conforto, de segurança. Por isso, quando as religiões se baseiam, como o fazem, na oferta de seguranças, tem que haver exploração; e para mim as religiões tal como são subsistem em nada mais do que numa séria de explorações. Aquilo a que chamamos os mediadores entre o nosso presente conflito e essa suposta realidade tornaram-se os nossos exploradores, e eles são os sacerdotes, os mestres, os professores, os salvadores; porque eu afirmo que só através da compreensão do conflito presente com todo o seu significado, com todas os seus delicados matizes – só assim podem descobrir o que é real, e ninguém os pode conduzir a isso.
Se ambos, o inquiridor e o professor, soubessem o que é a verdade, então ambos poderiam ir na sua direcção; mas o discípulo não pode saber o que é a verdade. Por isso a sua inquirição sobre a verdade só pode existir no conflito, não longe dele, e assim, para mim, qualquer professor que descreva o que é a verdade, o que é Deus, está a negar isso mesmo, esse algo incomensurável que não pode ser medido por palavras. A ilusão das palavras não lhes dá segurança, e a ponte das palavras não os pode conduzir a esse algo. É somente quando vocês, como indivíduos, se começarem a aperceber no conflito imenso, da causa, e por consequência da falsidade desse conflito, que descobrirão o que é a verdade. Ali existe a felicidade eterna, a inteligência; mas não nesta coisa espúria chamada espiritualidade que é apenas uma conformidade, conduzida pela autoridade através do medo. Eu afirmo que existe algo extremamente real, infinito; mas para o descobrir o homem não deve ser uma máquina imitativa, e as nossas religiões não são nada mais que isso. E além disso, as nossas religiões em todo o mundo mantêm as pessoas separadas. Isto é, vocês com os vossos preconceitos específicos, autodenominado-se Cristãos, e os Indianos com as suas crenças específicas, autodenominando-se Hindus, nunca se encontram. As vossas crenças mantêm-nos separados. As vossas religiões estão a mantê-los separados. “Mas”, dizem vocês, “se os Hindus pudessem ao menos tornar-se Cristãos, então haveria uma unidade”, ou os Hindus dizem, “Deixemos que se tornem todos Hindus.” Mesmo então há divisão, porque a crença necessita de uma divisão, uma distinção, e por esse motivo a exploração e a luta contínua da diferença de classes.
Dizemos que as religiões unem. Pelo contrário. Olhem para o mundo fraccionado em seitas pequenas e tacanhas, lutando umas contra as outras para aumentar o seu número de membros, a sua riqueza, as suas posições, as suas autoridades, pensando que elas são a verdade. Só há uma verdade, mas não podem chegar a ela através de nenhuma seita, através de nenhuma religião. Para descobrir o que é verdade na religião, e o que é falso, não podem ser uma máquina; não podem aceitar as coisas como elas são. Fá-lo-ão se estiverem satisfeitos, e se estão satisfeitos não me ouvirão, e a minha palestra será inútil. Mas se estão insatisfeitos ajudá-los-ei a questionar correctamente, e desse questionamento descobrirão o que é a verdade, e nessa descoberta do que é verdadeiro descobrirão como viver amplamente, completamente, extaticamente; não com esta constante luta, batalhando contra tudo para vossa própria segurança, à qual chamam virtude.
Mais uma vez, este medo que é criado através da procura de segurança, procura refúgio na sociedade. A sociedade nada mais é que a expressão do individual multiplicada por milhares. Afinal, a sociedade não é uma coisa misteriosa. É o que vocês são. É premente, controladora, dominadora, tortuosa. A sociedade é a expressão do indivíduo. Esta sociedade oferece segurança através da tradição, a que chamamos opinião pública. Isto é, a opinião pública diz que possuir, possuir bens, é perfeitamente ético, moral, e dá-lhes distinção neste mundo, confere-lhes honras; vocês são pessoas notáveis neste mundo. É isso que, tradicionalmente, é aceite. É essa a opinião que criaram como indivíduos, porque é isso que vocês procuram. Todos vocês querem ser alguém no estado, seja Sir Qualquer Coisa ou Lord, e todo o resto, como vocês sabem, que se baseia na possessividade, nas posses; e isso tornou-se moral, verdadeiro, bom, perfeitamente cristão, ou perfeitamente hindu. É a mesma coisa. Ora nós chamamos a isso moralidade. Chamamos moralidade ao ajustamento a um padrão. Por favor, não estou a pregar o contrário disso. Estou a mostrar-lhes a falsidade disso, e se quiserem descobrir actuarão, não procurarão o reverso. Isto é, vocês consideram as posses, já sejam a vossa mulher, os vossos filhos, os vossos bens, vocês consideram isso perfeitamente moral. Agora suponham que tinha nascido uma outra sociedade em que as posses fossem más, onde esta ideia de possessividade fosse eticamente proibida – que entrasse na vossa mentalidade como a possessividade entra agora pelas circunstâncias, pela situação, pela opinião. Então a moralidade perde todo o seu significado, a moralidade é então uma mera conveniência. Não a percepção correcta das coisas, mas o engenhoso ajuste às circunstâncias – a que chamam moralidade. Suponham que querem, como indivíduos, não ser possessivos, vejam o que têm que combater! Todo o sistema da sociedade não é senão possessividade. Se o compreendessem e não fossem levados pelas circunstâncias que não são chamadas morais, então vocês, como indivíduos, teriam que começar a afastar-se desse sistema voluntariamente, e não teriam que ser levados como cordeiros a aceitar a moralidade da não-possessividade.
Actualmente são forçados quer gostem quer não, quer pensem que é sensato ou não; são forçados pelas situações, pelo meio que criaram, porque são ainda possessivos, e agora talvez apareça um outro sistema que os leve ao oposto – a ser não-possessivos. Certamente não é moralidade; é apenas timidez ser forçado pelo meio a ser possessivo ou não-possessivo. Ao passo que, para mim, a verdadeira moralidade consiste em compreender totalmente o absurdo da possessividade e combatê-la voluntariamente; e não ser conduzido de uma maneira ou de outra.
Agora, se olharem, esta sociedade está baseada na consciência de classes que é mais uma vez a consciência da segurança. Da mesma maneira que as crenças se tornam em religiões, também as posses se tornam na expressão da nacionalidade. Da mesma maneira que as crenças separam as pessoas, condicionam as pessoas, mantêm-nas separadas, também a possessividade, expressando-se como consciência de classes e tornando-se em nacionalidade, mantém as pessoas separadas. Isto é, toda a nacionalidade se baseia na exploração da maioria pela minoria para seu próprio benefício através dos meios de produção. Essa nacionalidade, através do instrumento do patriotismo, é um processo de guerra. Todas as nacionalidades, todos os países soberanos, têm que se preparar para a guerra; é o seu dever, e não adianta serem pacifistas e ao mesmo tempo falar de patriotismo. Não podem falar de fraternidade, e depois falar sobre Cristianismo, porque isso nega-a; não mais aqui que na Índia, ou em qualquer outro país. Na Índia podem falar sobre Hinduísmo e dizer que somos um só, que toda a humanidade é uma só. São apenas palavras – hipocrisia.
Portanto todas as nacionalidades são um processo de guerra. Quando falava na Índia, disseram-me (presentemente os Hindus estão a travessar uma fase dessa doença do nacionalismo), “Olhemos primeiro pelo nosso país porque há tanta gente a morrer de fome; depois podemos falar sobre a unidade da humanidade”, que é a mesma coisa de que falam aqui. “Protejámo-nos e depois falaremos sobre unidade, fraternidade, e todo os resto.” Ora, se a Índia está realmente preocupada com o problema da fome, ou se vocês estão realmente preocupados com o problema do desemprego, não podem lidar apenas com o problema de desemprego da Nova Zelândia; é um problema humano, não um problema de um grupo específico chamado Nova Zelândia. Não podem resolver o problema da fome como um problema Indiano, ou como um problema Chinês, ou o problema do desemprego como um problema Inglês, ou Alemão, ou Americano, ou Australásio, mas têm que lidar como ele como um todo; e só podem lidar com ele como um todo quando não forem nacionalistas, e não forem explorados através do processo de patriotismo. Vocês não são patriotas todas as manhãs quando acordam. Só são patriotas quando os papéis dizem que têm que o ser, poque têm que conquistar o vosso próximo. Somos por isso bárbaros, e não os que invadem o vosso país. O bárbaro é o patriota. Para ele o seu país é mais importante que a humanidade, que o homem; e eu digo-vos que não resolverão os vossos problemas, este problema económico e de nacionalidade, enquanto forem Novo Zelandeses. Só o resolverão quando forem seres humanos verdadeiros, livres dos preconceitos nacionalistas, quando deixarem de ser possessivos, e quando a vossa mente não estiver dividida pelas crenças. Então poderá haver verdadeira unidade humana, e então o problema da fome, o problema do desemprego, o problema da guerra, desaparecerá, porque vocês considerarão a humanidade como um todo e não como algum povo específico que quer explorar outro povo.
Vêem portanto o que está a dividir o homem, o que está a destruir a verdadeira glória de viver na qual, unicamente, podem encontrar essa realidade viva, essa imortalidade, esse extâse; mas para a encontrar têm que ser em primeiro lugar indivíduos. Isso significa que têm que começar a compreender, e por consequência a agir, para descobrir o que é falso no sistema existente, e assim, como indivíduos, formarão um núcleo. Não podem alterar as massas. O que são as massas? Vocês próprios multiplicados. Esperam que as massas actuem, esperando que por algum milagre haja uma mudança completa do dia para a noite, porque não pensam, não querem agir. Enquanto esta atitude de espera existir, haverá cada vez maior luta, cada vez mais sofrimento, falta de compreensão; a vida torna-se uma tragédia, algo sem valor. Ao passo que, se vocês, como indivíduos, agirem voluntariamente porque querem compreender e descobrir, então tornar-se-ão responsáveis, então não se tornarão reformadores, então haverá uma mudança completa, não baseada na possessividade, nas distinções, mas na verdadeira humanidade na qual há afecto, há pensamento, e por isso um êxtase de viver.
Textos de J.Krishnamurti

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Snatam Kaur - By Thy Grace

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não deveria ...

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem outra vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha pra fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o Jornal no ônibus porque não pode perder o tempo de viagem. A comer sanduíches porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E não aceitando as negociações de paz aceita ler todo dia, de guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios, a ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar por ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável, à contaminação da água do mar, à lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galos na madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta do pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só o pé e sua o resto do corpo.. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Bushido

O Bushido Ryu é um método de treinamento que visa o desenvolvimento do praticante por completo, ou seja, um desenvolvimento continuo do corpo, mente e espírito. Fazendo com que a arte se adapte ao praticante não o praticante a arte, pois o Bushido Ryu desenvolve cada um dentro de suas próprias características físicas e limitações, buscando fortalecer o praticante dentro de suas reais necessidades, por isso é uma arte que pode ser praticada por qualquer pessoa independente da idade, tamanho ou sexo.
    O que significa Bushido:      
Bushido, significa literalmente, "caminho do guerreiro" - era um código de honra não-escrito e um modo de vida para os samurais (a classe guerreira do Japão feudal ou bushi), que fornecia parâmetros para esse guerreiro viver e morrer com honra.
"Seguir o bushido, é dar ênfase à lealdade, fidelidade, auto sacrifício, justiça, modos refinados, humildade, espírito marcial e honra acima de tudo, morrer com dignidade". 
Bushido é formado e influenciado pelos conceitos do Budismo, Xintoísmo e Confucionismo. A combinação dessas doutrinas e religiões, formaram o código de honra do guerreiro samurai, conhecido como bushido. 
No geral, guerreiro é aquele que busca seu próprio caminho. Muitas pessoas podem estar perfeitamente buscando o caminho sem saber disso. Guerreiro é a pessoa que tem um objetivo, e que por meio deste, passa a ter consciência de seu dom e suas limitações. Através dessa consciência, o guerreiro atinge sua meta, combinada com a vontade de vencer fraquezas, temores e limitações. 
Cada pessoa trilha seu próprio caminho, já que existem vários caminhos como o caminho da cura pelo médico, o caminho da literatura pelo poeta ou escritor, e muitas outras artes e habilidades. Cada pessoa pratica de acordo com a sua inclinação. Por isso pode-se chamar de guerreiro, aquele que segue seu caminho específico. 
Porém, no bushido, a palavra guerreiro significa muito mais do que isso. O termo bushi não pode ser designado a qualquer um. O bushi é diferente, pois seus estudos do caminho baseiam-se em superar os homens. A casta guerreira se distingue das demais por sua fidelidade e honra, a palavra do guerreiro vale mais do que tudo. 

A etiqueta deve ser seguida, todos os dias da vida cotidiana, assim como na guerra pelos samurais. Sinceridade e honestidade são as virtudes que avaliam suas vidas. Transcender um pacto de fidelidade completa e confiança esta ligado à dignidade. Os samurais também precisavam ter autocontrole, desapego e austeridade para manter sua honra, em função disso, podemos dizer que o samurai é o guerreiro completo e seu código de honra - o bushido - tem forte influência no estilo de vida do povo japonês e oferece uma explicação do caráter e da indomável força interior desse povo. 
Resumindo, bushi é aquele que segue o caminho do guerreiro.
Miyamoto Musashi dizia: - Os homens devem moldar seu caminho. A partir do momento em que você ver o caminho em tudo o que fizer, você se tornará o caminho.

Conhece-te a Ti Mesmo

O Mensageiro da Estrela
Por J. Krishnamurti, tal como impresso na revista The Herald of Star no número de Maio de 1925
Penso que não existe tema mais interessante ou mais prometedor, ou de forma alguma mais excitante, do que o estudo de nós mesmos. Aos 15 ou 16 anos, estamos submersos em nós mesmos. Não há nada que nos interesse tanto. Depois apaixonamo-nos por alguém; mas ainda assim estamos extasiados com nós próprios. Há, descobrimos, muito mais inteligência no estudo de nós mesmos, e muito pouco pensamento dedicado aos outros. E de bom grado damos a uma quiromante 15 rupias para ela nos contar tudo sobre nós. E sentimo-nos bastante confortáveis com o pensamento de que iremos ser grandes um dia – sem, aparentemente, ter que lutar por essa grandeza. Existe apenas um tema que nos atrai e esse somos nós mesmos. Discutimo-nos, e de uma forma aprobatória consideramos como nos comportar, de que modo desenvolvermo-nos, e por aí em diante.
Parece-me que se pensarmos inteiramente deste ponto de vista, deste ponto que unicamente nos interessa a nós, não entenderemos porque é que existimos, ou porque qualquer coisa neste mundo, de todo, existe. Claro que é verdade que primeiro temos de nos compreender a nós mesmos antes de querer descobrir seja o que for sobre a vida em geral. Filosofia, religião e outros temas não possuem real valor, real controlo sobre um indivíduo, ou apenas têm uma pequena influência, quando somente apontam como podemos escapar a certas coisas, como evitar o mal, e por ai fora. Mas aqueles de nós que são membros da Star, ou pertencem a tais organizações, deverão ter a ideia de um plano definido que está a desenvolver-se.
Estamos em posição de examinar as coisas que nos são mais valiosas – coisas que produzem em nós o desejo de evoluir. Em todos nós existe o desejo de descobrir por nós mesmos até onde podemos compreender quem somos e o que nos afecta. A pessoa comum está de longe mais interessada nela mesma do que em qualquer outra. Luxúria, conforto, felicidade, tudo tem que apoiar os seus fins. Quando tudo foi feito para a satisfazer então somente pensa nos outros. Quando eu tiver comido e dormido o suficiente, voltar-me-ei para pensar nos outros. Esta é a visão comum. Se tiveste amor em abundância, ou felicidade, és levado a pensar no outro.
Mas para alcançar essa felicidade, devemos descobrir até onde nos encaixamos num plano definido. Devemos estar cientes de que há um plano em que cada um de nós tem um papel a representar, e devemos possuir a determinação na qual agiremos, com a qual deveremos criar o ambiente no qual caberemos – ou não; e se estivermos dispostos a procurar com a atitude correcta deveremos ser capazes de descobrir até onde nos encaixaremos nesse plano. Para mim, posso imaginar que os deuses eleitos disseram que Krishna deverá encaixar-se num certo plano estabelecido, e que o quer que seja que ele faça, não terá valor, e enquanto encaixar nesse plano, Krishna crescerá e será feliz. Eu estava interessado e observava-me a mim mesmo, e podia ver de ano para ano uma mudança definida, uma orientação definida, uma transformação definida e podia ver qual era o meu definido papel. E assim cada um de nós deverá descobrir que caminho percorrer e qual a especialidade a ter.
Acontece frequentemente que a maioria de nós está disposta a subir até ao altar e verter a nossa devoção. A devoção existe, em diversos graus, na maioria de nós, mas não pode nem deve satisfazer-nos. Se eu fosse ter com a Dr.ª Besant e lhe disesse: “Estou disposto a servi-la em qualquer das minhas capacidades. Estou disposto a sacrificar tudo e o meu único desejo é trabalhar para obter conforto, independência, e por aí fora,” ela diria, “Oh, muito bem; que capacidades trazes contigo. De que modo queres prestar serviço ao Mestre?” A devoção deve ter um escape na actividade física; e desta forma se tivermos de determinar qual o papel que cada um de nós tem de representar, antes de nos oferecermos, devemos descobrir quais as capacidades que temos. Quando para um Teósofo ou um membro da Star ou qualquer outro, o chamamento aparece como “sacrifica tudo e vem ao Mestre,” não é suficiente pedir ao Mestre que aceite somente a nossa devoção; devemos dar-lhe qualquer coisa que lhe permita guiar-nos. Por outras palavras, devemos trazer perante o Mestre certas capacidades e não aparecer apenas de mãos vazias. Se eu puder chegar junto do Mestre e dizer “Eu posso fazer isto ou aquilo, eu posso escrever ou pintar ou compor música ou representar,” Ele dirá: “Muito bem, esse é o teu caminho. Vai e procura, descobre quais são os teus talentos, e logo que os encontres, saberás como sofrer e servir.” Pois existem muito poucos que realmente conseguem dizer, “Eu posso fazer isto; ao longo desta linha reside o meu sacrifício ao serviço do Mestre.” Consideramos que nos sacrificámos quando terminamos sem algo do qual podemos facilmente abrir mão.
Se eu tivesse imaginado algo em particular que o Mestre quisesse realizado, eu tratá-lo-ia de outro modo. E se eu precisasse de riquezas, tê-las-ia acumulado, não para mim, mas para o Mestre, e ao acumula-las, saberia que tinha que me sacrificar, e tinha que suportar enormes sofrimentos e mal-entendidos. Mas é a atitude que conta. Estamos com medo de que as nossas capacidades não nos guiem pelo caminho que nos foi preparado. Assim temos que descobrir antes de servir realmente, de que maneira cada um de nós pode servi-Lo, de que modo podemos oferecer o nosso sacrifício, e ao descobrir qual o nosso caminho deveremos descobrir a qual tipo pertencemos, se ao tipo que vai para o mundo e se desenvolve no mundo, por assim dizer, ou é deixado numa estufa e evolui, como uma planta, igualmente cheio de força. Há pessoas que trabalham no mundo por vários anos, que trabalham e fazem de tudo sem descobrir qual o propósito da vida. Descobrem o seu propósito por acaso, mas acumularam tanto do que o mundo tem para dar que ao entrarem em contacto com as realidades espirituais abrem mão de tudo o que adquiriram, enquanto aqueles que cresceram numa estufa separados do mundo alcançam o objectivo por outro caminho.
Portanto tal não tem importância desde que tenhamos aprendido o que ambas as guerras de identidade podem oferecer, e não até então estarão aptos a servir o mundo. Imaginem apenas uma pessoa que é criada, diga-se, num templo onde é reprimida, onde desenvolve complexos. Assim que essa pessoa sai lá para fora para o mundo, tem a melhor das diversões; e é o mesmo com a pessoa que trabalha cá fora no mundo. Não podemos evoluir ao longo de uma linha definida. Devemos evoluir em todas as direcções e até lá não ajudamos e só atrapalharemos.
Tal como eu conheço o meu próprio caminho, também cada um de nós deverá descobrir o seu caminho e até essa descoberta ser feita não devemos estar prontos ou aptos para servir o Mestre. Aqueles de nós que têm imaginação, que em certo grau têm a capacidade de tomar uma visão impessoal da vida, podem descobrir isto. Mas a maioria de nós não têm o desejo de servir, nem o desejo de alcançar o seu caminho ou objectivo.
O nosso problema é que tal como no mundo exterior, temos os nossos direitos adquiridos. E desde que exista o elemento de egoísmo, não descobriremos o caminho. Cada um de nós quer que o Mestre desça até si; mas o que não aprendemos foi que, mesmo como imaginamos, se Ele descesse das nuvens, seríamos incapazes de O servir, porque não nos equipámos para Lhe prestar serviço.
Devemos descobrir de que maneira podemos servir, e isso implica a completa violação de nós mesmos, das nossas relações, etc. Não é que não tenhamos o desejo, nem a nostalgia que as grandes pessoas têm; mas em nós não é constante. Não existe aquela pressão contínua que nos mantêm a andar, a andar, a andar. Significa verdadeiro sacrifício, significa subjugar-nos em tudo e não deixar o ego (a personalidade, o eu) ficar-se por cima. Então deixaremos de distorcer as coisas para que se encaixem nos nossos preconceitos, mas compreendê-las-emos de um modo total; por outras palavras, tornam-se realmente simples.
Devemos ter a coragem e determinação para desistir; e quando subimos e atingimos uma certa distância, descobrimos o quanto de tolos somos ao lutar pelo que é tão trivial, tão simples. Existem tantos temas com os quais lutamos de uma forma tão complicada; mas se nós apenas nos deixássemos expandir um pouco, todos estes temas se tornavam simples, todas as complicações desapareceriam. Mas requer que nos observemos constantemente, que estejamos atentos para ver se estamos a fazer a coisa certa ou a coisa errada.
Cada um de nós sabe destas coisas de fio a pavio, e mesmo assim se o Mestre chegasse e perguntasse o que cada um de nós soube fazer, de que modo agimos na sua ausência, de que modo cumprimos o nosso papel, quais seriam as nossas respostas? É surpreendente como não conseguimos mudar, como devíamos, tal e qual uma flor. A nossa crença embora forte, não é a crença de um homem que age com uma determinação fixa. Essas são, no entanto, as pessoas que o Mestre quer ao Seu serviço, e não somente aquelas que são apenas devotas, sem que essa devoção as conduza à acção. Se nós conseguirmos pôr de lado a nossa própria evolução, e trabalhar e esquecermo-nos de nós mesmos no trabalho, então seremos verdadeiramente servis e aproximar-nos-emos do Mestre. Pode ser que eu seja jovem, que eu não tenha sofrido como os mais velhos já sofreram, mas se o sofrimento pode desalentar o entusiasmo então mais vale não tê-lo. Mas o que foi que nos ensinou o sofrimento?
Como disse no início, não existe nada tão absorvente como o estudo de nós mesmos. Esse é o único assunto sobre o qual vale a pena pensar; porque significa mudança. Não existe ninguém para forçar os mais velhos, e portanto ficam cristalizados. O que interessa é descobrir o que podemos fazer e até onde nos podemos sacrificar; quanta é a nossa força e quais as nossas capacidades. Quando vemos pessoas numa atitude de reverência, penso frequentemente no que terão feito por via do sacrifício.
Nos anos que estão para vir, ou temos que nos adaptar rapidamente à corrente em mudança, ou sair completamente dela. Quando definitivamente agarrarmos um vislumbre do Plano, por mais passageiro que seja, e sabendo que devemos continuar, simplesmente continuaremos, porque é muito mais divertido do que somente marcar o tempo. O que interessa é termos de fazer qualquer coisa para mudar. A velhice não significa que não podemos mudar. Por outro lado, é mais fácil para os mais velhos, porque eles já tiveram a experiência, e o sofrimento; no entanto continuam do mesmo velho modo de perpétua negligência. Se querem ganhar dinheiro, vão e ganhem milhões, e dêem-nos ao Mestre, e podem fazê-lo se tiverem a atitude correcta. E é o mesmo com tudo o resto que queiram fazer – escrever á maquina, estenografar ou qualquer outra coisa que desejem que seja o vosso serviço para o Mestre. A atitude é o que conta e quando chegarem lá todo o resto se seguirá.